Sabemos que há um estado de
emergência que espreita por detrás deste estado de emergência. Há uma
declaração de guerra feita ao povo, que o povo só descobrirá quando isto tudo
terminar. Há silêncios fúnebres. Há uma epidemia sepulcral por detrás desta pandemia,
que abrirá valas comuns em várias famílias.
Há um gravíssimo problema de saúde
que está muito para lá deste problema viral. Depois, na rectaguarda, há um véu ocidental,
uma espécie de véu islâmico invisível, que a comunicação social usa para nos tapar
a cara.
Mas sabemos mais. Sabemos, nós,
pessoas com deficiência, que há uma calamidade pública, muito antes do estado
de calamidade pública poder vir a ser declarado. Que ficarmos todos bem em casa
pode ser o caminho mais fácil para ficarmos todos bem na sepultura, com a nossa
melhor fotografia e a nossa melhor pose à cabeça do morto.
Mas sabemos ainda mais: sabemos
que há empresas funerárias com protocolos celebrados com quase tudo o que mexe
e também sabemos que as “informações e possibilidade de realizar online a consulta
de registos da atividade funerária relativamente às agências funerárias e às
associações mutualistas que exercem a atividade funerária em Portugal” em
eportugal.gov.pt remontam à Idade Média, mais propriamente ao primeiro
trimestre de 2012… [http://www.dgae.gov.pt/?cr=13033]
Há uma desgraça sanitária a
acontecer diariamente, à hora, ao minuto, ao segundo, com toda a negligência que
o despudor permite, por alguns daqueles que hoje são apelidados de heróis da
linha da frente, mas que ficariam, alguns deles e delas, muito bem colocados atrás de portas, para não dizer outra coisa.
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